terça-feira, 5 de janeiro de 2016

Ser Filho Único...

... é ter mais responsabilidades do que os outros filhos com irmãos, esses tem sorte, não sabem o que é solidão. É não puder estalar os dedos e desaparecer quando queremos pois não há um substituto para ocupar o nosso lugar. É ter a obrigação de tentar o tentar da palavra perfeição.

No início berramos, pedimos e alguns até rezam para ter algum companheiro de sangue a partilhar a mesma casa que nós, mas depois crescemos, aprendemos a fingir gostar da solidão, a abraçá-la para que ao pensarmos no quanto sozinhos estamos nessa solidão, não se criem feridas profundas que nos perturbe o fingimento de adorar algo que nem sabemos o que é.

Como filhos únicos planeamos a nossa vida, meta por meta, sem nenhum objetivo em vista mas com a morte certa presente no curto corredor da nossa vida.

Habituados a não ter de partilhar, oferecemos com gosto, ou por obrigação pessoal, tudo o que pudermos àqueles que dizem-se nossos amigos, que são poucos mas protegemos com garras e dentes e, se for preciso, suor e algum sangue. Pois quando passamos uma infância em que a palavra partilhar é sinónimo de inexistência por não ter com quem fazê-lo, em idade de consciência precisamos de aceitação por parte do outro, precisamos de sentir a utilidade da palavra útil, amar o que nos é oferecido e virar costas a um orgulho que cresce dentro de nós como uma ratazana parideira.

Num fim, que desconheço e suponho estar longe, espero ser entabuado no meio de uma multidão a reter lágrimas, e enquanto eu descubro no reino do nada o que é ser cadáver, espero que muitos alguém sintam a saudade da minha presença, que falem por breves instantes das minhas metas conseguidas e me lembrem como o filho de alguém....

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